sábado, 14 de março de 2009

Uma nova ótica sobre os casos Paula Oliveira e Sean Goldman

Acompanhamos, nas últimas semanas, o desenrolar de dois casos que geraram grande repercussão mundo afora envolvendo brasileiros: o Caso Paula Oliveira e o Caso Sean Goldman. Contextualizando o leitor que acabou de voltar de Saturno desatualizado, o primeiro diz respeito à garota de 26 anos que, segundo a própria, fora torturada por skinheads, na Suiça, fato contestado e, posteriormente, desmentido; já o segundo aborda a disputa judicial pela guarda do menino Sean, de 8 anos, entre o padrasto, brasileiro, e o pai, americano, que se arrasta desde a morte da mãe do garoto, ocorrida em agosto do ano passado.

Sem julgamento de valores e/ou preceitos, o enfoque dessas linhas será o papel desempenhado pela imprensa em ambos os casos. Sem mais do mesmo. Brados e gritos inflamados surgiram de vários lados, dezenas -- talvez centenas -- de matérias abordaram os equívocos cometidos pela mídia nacional... A bem da verdade, frise-se, pouco de produtivo foi dito a respeito, e não é garantido que este texto o fará. O assunto em voga é a diferenciação entre o que é crítica construtiva e o que é bravata. Houve omissão? Excesso? Inocência?


O CASO PAULA OLIVEIRA


O Caso Paula, primeiro a ser analisado, foi considerado por muitos jornalistas um dos maiores vexames da nossa imprensa. "Como puderam confiar apenas no depoimento da moça?" e "Por que não ouviram outras fontes, procuraram novas informações?" foram perguntas recorrentes. Vários profissionais fizeram seu mea-culpa, alguns falsamente, e agora temos que conviver com mais essa gafe jornalístico-tupiniquim.



O que não foi dito, porém, é que a história era, por si só, verossímil: tinha argumentos plausíveis, fotos impactantes e uma agoniante -- e proposital -- escassez de informações precisas. O governo e a polícia suíços não divulgaram boletins informativos, não deram informações a jornalistas, não explicaram à população o que, de fato, havia acontecido. Em suma: ficamos às cegas.


O espectador esperava ávido por informações, e a imprensa representa -- ou deveria representar -- o afã da população. O povo quer dar sua opinião, participar das investigações. O Frenesi Digital (dito por Guilherme Fiuza no Observatório da Imprensa do dia 03/03/09) já acontecia voraz, com notícias mil circulando na Internet, todas -- sim, todas -- imprecisas e incompletas. Se a imprensa brasileira não se manifestasse, seria tachada de omissa e despreocupada. Como o fez, ficou sendo a imediatista e despreparada. Era preciso tomar uma decisão. Não seria suficiente dizer que "a princípio, aparentemente suspeita-se que Paula Oliveira teria sido vítima de tortura". Não convenceria. Não aproximaria o leitor. Não venderia.



O impacto da notícia foi muito mais forte do que a vontade de destrinchá-la e isso é inadmissível em qualquer mídia do mundo. Os jornalistas brasileiros cometeram uma falha e, em partes, pediram desculpas por isso. O que tem de haver agora é uma reflexão sobre os métodos de pesquisa, apuração, abordagem e divulgação de reportagens. Reflexão, não retaliação. Reflexão, não auto-flagelação. Sem masoquismo.

A imprensa não pode se tornar uma espécie de "classe política", aquela que se omite, que é prolixa e evasiva nas questões mais relevantes para os receptores de tais mensagens. Não pode se abalar drasticamente por um equívoco cometido. Não seja tão pessimista, nobre leitor. Nossa imprensa vai muito bem, obrigado.

Jhonatas Silva Franco
13/03/2009


*Obs: o complemento do texto, que fala sobre o garoto Sean, ainda não está terminado. Prometo postá-lo na segunda-feira.

(Conselho: Não acreditem em tudo o que está escrito no site acima...)


Update:

Como prometido, segue o texto:


CASO SEAN GOLDMAN

O pequeno Sean Goldman, de 9 anos, é pivô de uma disputa judicial que já dura 4 anos – e que se acirrou nos últimos meses – por sua guarda. Participam a família da mãe (juntamente com o padrasto) e o pai biológico, David Goldman. Em meados de 2005, a mãe do garoto, Bruna Bianchi, morava em New Jersey, nos EUA, com o marido e o filho. Naquele ano, Bruna e Sean, vieram para o Brasil a passeio, e daqui não mais saíram. Bruna alegava diversos problemas no casamento e queria voltar a morar em seu país de origem. Desde então, David move processo de seqüestro na justiça, alegando que a Convenção de Haia foi ferida.

Bruna Bianchi, 33, morreu em agosto de 2008, vítima de complicações do parto de sua segunda filha, Chiara. Ela havia se casado com o conceituado advogado João Paulo Lins e Silva, que agora luta pela guarda de Sean – já conseguiu provisoriamente, logo após a morte da mulher, fato que gerou certa surpresa e desconforto na imprensa em geral, principalmente pela rapidez do processo.

O que deve ser analisado não é o merecimento de cada um, nem haverá julgamento antecipado. O fato é que os dois merecem ter o filho, um por ser biológico, o outro por ter criado, convivido. Um se sente vítima de um “seqüestro”, e o outro lembra que sempre arcou com todos os custos referentes à educação de Sean e que ele é muito mais brasileiro do que norte-americano, Deixando essa discussão de lado, colocamos em voga o papel da imprensa nos países envolvidos.

O jornal Folha de São Paulo publicou matéria referente ao caso no ano passado. Desde então, um juiz da 2ª Vara da Criança e Juventude de São Paulo proibiu a veiculação de qualquer material que fizesse referência ao garoto. Enquanto isso, uma verdadeira “força-tarefa” foi criada nos EUA a favor do pai. No site oficial da campanha, Bringmesean, é possível fazer doações em dinheiro, comprar bonés, fraldas, aventais e capas com o rosto do garoto. David participou de inúmeros programas de televisão, passeatas, encontros... tudo em prol do imediato retorno se Sean para os Estados Unidos. No Brasil, nada.

É muito fácil – ou torna-se muito fácil – acreditar em um fato quando este é o único veiculado, ou seja, não sofre contestação, não tem 2 lados, não explicita o que a outra parte tem a dizer. A imprensa americana, já acostumada a cobrir tudo, deleitou-se com mais um drama familiar, mais uma novela anglo-latina. Enquanto isso, nossa imprensa permanecia calada, não por vontade, mas por determinação de um juiz que se acha no direito de dizer o que a população merece e o que ela não merece saber.

Não é a intenção convencer o nobre leitor a tomar este ou aquele partido em relação a esta história, e reconheço que este texto está longe de ser dos melhores e/ou mais persuasivos. O intuito é mostrar que é possível distorcer fatos da história original por conta do maior ou menor enfoque da mídia para determinada parte envolvida. Procurem ouvir o outro lado. É mais justo.

Jhonatas Silva Franco

16/03/2009


Com Bruna e David (esq.) e em foto recente, com Chiara

Com o padrasto, João Paulo, e Bruna


Carta do Padrasto à Imprensa

Site do Pai Biológico

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