quinta-feira, 24 de junho de 2010

A Copa do Mundo Publicitário

“Elano escreveu os nomes das duas filhas, Maria Teresa e Maria Clara, nas caneleiras que usava no jogo. Em pouco tempo, elas serão algo do tipo: ‘Maria Teresa e Maria Clara, Impossible is Nothing” ou ‘Maria Teresa e Maria Clara, Just Do It’”



Estamos no transcorrer da Copa do Mundo de 2010, na África do Sul. Apesar de ainda termos muitos jogos por ver, já é possível dizer que ela será lembrada pelos vexames de seleções tradicionais, pelo fracasso dos times africanos, pela “falência” dos apostadores de bolões e por motivos que ainda veremos no decorrer da competição. Em suma, nunca tivemos uma Copa tão inusitada.

Esta será, também, a Copa da Jabulani “sobrenatural”, das vestimentas dos técnicos em voga, das loiras do comercial – não autorizado – de cerveja, do Elano homenageando as filhas via caneleiras e de outros fatores que ainda não presenciamos. Resumindo: nunca tivemos uma Copa tão midiática.

Vivemos em uma Era Midiática – sim, com “E” e “M” maiúsculos. Tão midiática que se torna impossível discernir o que é mídia, ou mídia em potencial, e o que não é. É tarefa inglória separar o que é dito espontaneamente do que é estrategicamente declarado em benefício dessa ou daquela empresa. É complicado distinguir o que é vivido do que é comprado.

Destrinchando o segundo parágrafo, entendemos o terceiro com tranquilidade.

A bola utilizada na Copa tem sido contestada por boa parte dos atletas, com alguns poucos – os patrocinados pela mesma empresa da Jabulani, frise-se – elogiando-a. Engana-se, porém, quem pensa que tal repulsa tem freado as vendas da redonda. Elas são um sucesso e, espera-se, serão as mais comercializadas da história das Copas, seguindo o velho clichê do “falem mal, mas falem de mim”. Marketing estranho, mas eficiente.

Quanto aos treinadores, mais um espetáculo marketeiro, e Dunga é um exemplo claro: contestado tanto nas escolhas técnicas quanto nas vestuais, o técnico resolveu inovar na estreia da competição usando um elegante sobretudo Alexandre Herchcovitch. Essa informação é importante para o decorrer da Copa? Não, claro. Escreva no Google, porém, o nome do estilista seguido de “Dunga” e veja quantas matérias foram feitas a respeito do “fato”. E o terno do Maradona, de onde é? Quem é o estilista? Não sei, mas se eu fosse o Herchcovitch, não perdia tempo e mandava uma dezena deles para o hermano.

Bavaria, que eu saiba, é uma cerveja brasileira. Por dar nome a uma região alemã e eles serem notáveis conhecedores da bebida, talvez tenha uma por lá, também. Depois da Copa do Mundo de 2010, descobri – graças às formosas “loirinhas de laranja” – que essa marca existe na Holanda. E daí se as garotas foram presas? Aliás, que bom que foram!, devem ter dito os criadores da ação. Marketing inovador e eficiente, apesar de não muito ético, já que outra marca é a patrocinadora oficial. Qual é ela? Não importa.

Com a proibição de mensagens nas camisas usadas por baixo dos uniformes dos jogadores, o meia Elano resolveu inovar na comemoração, escrevendo os nomes das duas filhas, Maria Teresa e Maria Clara, na parte posterior das caneleiras que usava no jogo. Aguardem e verão que, em pouco tempo, elas serão algo do tipo: “Maria Teresa e Maria Clara, Impossible is Nothing*” ou “Maria Teresa e Maria Clara, Just Do It**”. O tempo dirá se tenho razão.

Espontâneas ou planejadas, o fato é que somos bombardeados por ações publicitárias diariamente, em quase todos os momentos. A midiatização de eventos sociais, culturais, esportivos, dentre outros, é uma realidade e não há como negar. É possível transformar os objetos e situações mais inusitados em fontes de absorção de ideias por parte de nossos clientes, e a Copa do Mundo está aí para provar isso. Se você é publicitário, aproveite. Se não é, se contente.

O mundo é midiático, só não vê quem não quer. Ou melhor: vê até quem não quer.



* - “Impossible is Nothing” / “Nada é Impossível”, em tradução livre – Slogan da marca esportiva Adidas
** - “Just Do It” / “Só faça isso”, também em tradução livre – Slogan da marca esportiva Nike


Por Jhonatas Franco