segunda-feira, 26 de abril de 2010

Amor de Copa

Paulo é médico. Rosa, jornalista. Paulo é divorciado arrependido. Rosa, solteira convicta. O encontro casual aconteceu no lobby principal do melhor hotel da África do Sul, às vésperas do início da Copa do Mundo de dois mil e dez. Trocaram olhares, desejos, expectativas; antes mesmo da primeira conversa, todas as diferenças entre ambos se esvaíram graças àquele contundente contato visual. Começava ali um amor de Copa do Mundo.

Paulo é brasileiro. Rosa, argentina. Graças ao fluente portunhol dele, os drinques e “esticadinhas” de um ao quarto do outro fluíram tão naturalmente quanto a campanha das duas equipes na primeira fase do torneio. Ambos classificados, ambos apaixonados. Enquanto as seleções se atracavam em enormes relvados buscando prazer futuro, os dois se atracavam em suítes diminutas almejando prazer momentâneo.

O futebol argentino era vistoso. O brasileiro, eficiente. Fase a fase, a discussão entre o casal deixou de ser norteada por vinhos, viagens e sexo, passando a ser futebol. Só futebol. E como discutiram! A hermana loira de olhos bem azuis falava com a propriedade de uma fã dedicada. O médico pálido e cabeludo tentava argumentar, mas gostava mais do que entendia.

- Esse Brasil é burocrático, sem brilho! – Ela dizia – Seria uma injustiça se ganhasse da Argentina na final, algo como a Alemanha ter vencido a Holanda em setenta e quatro. Vai dizer que não?

- Bom... o Brasil é melhor! – Ele esquivava-se, leigo.

O conflito histórico do futebol chegava – quase unilateralmente – ao quarto do hotel.

Surpreendendo prognósticos de leigos e entendidos, consolidou-se o primeiro Brasil e Argentina na final da Copa do Mundo. Rosa estava completamente apaixonada. Paulo, praticamente. Ele considerava abolir a ideia de conversar com ela sobre futebol, mas a hermana não cedia. Não era discussão esportiva, era ideológica. Quase religiosa.

Chegaram ao estádio com duas horas de antecedência. Duas horas antes da chegada, já discutiam sobre o jogo que estava por vir. A irritação de Paulo era inversamente proporcional à disposição de Rosa em mudar de assunto. Enfurecido, Paulo se levantou e deixou o estádio ainda no intervalo do jogo, prometendo nunca mais se verem. Ela ficou. Atônita, magoada, ferida.

Paulo agora é um divorciado convicto. Ela, uma solteira arrependida. E ele nem ficou para ver o gol de letra do Neymar aos quarenta do segundo tempo...

Jhonatas Silva Franco