terça-feira, 10 de março de 2009

"Compromisso com Juiz de Fora"?

Sobre a greve de ônibus que tomou a cidade nesta segunda-feira:

A CULPA NÃO É DELES!
Motoristas e cobradores estão fazendo papel de bodes expiatórios e sendo jogados contra a população, quando tais greves são nada menos que GOLPES DE MARKETING.

Ok. Se você não mora em Juiz de Fora não vai entender, mas se mora tire uns 5 minutos do seu dia (que provavelmente já foi lesado pelo mesmo assunto que descorreremos nas linhas abaixo) para entender um pouco melhor o que se passa na cidade.

O Caso Bejani já está defasado, tudo mundo conhece, todo mundo fala a respeito, já teve até matéria em rede nacional e tudo. Agora a administração mudou, mas os gigantes e verdadeiros donos da cidade continuam lá.

Segunda-feira, 09 de março, 33°C de temperatura, aproximadamente 10 da manhã - o cenário era o que você verá no vídeo abaixo: 70% de toda a frota (trinta veículos somente da Santa Casa de Misericórdia até o Parque Halfeld!) de transporte coletivo na cidade estavam PARADOS na Avenida Rio Branco. Vou repetir: Segunda-feira, hora do rush, 33 graus e 70% de TODOS os ônibus simplesmente PARADOS.

A população não conseguia chegar aos seus destinos e não sabia o porquê. Os motoristas e cobradores - PASMEM! - também não entendiam por que receberam ordens para cessar os serviços, bem como de onde tais ordens vinham.

Sim, receberam ordens! A Astransp, um dos órgãos da prefeitura da cidade(?), sugeriu que os profissionais cessassem os serviços para que a população da cidade achasse, erroneamente, que o aumento da passagem de ônibus (de novo!) para R$1,85 era necessário para garantir melhores condições aos trabalhadores do transporte público.

ISSO É UMA MENTIRA.
Já faz quatro anos que os profissionais não recebem um reajuste maior do que 3% de aumento no salário, o que é absurdo, já que desde o ano de 2004 a passagem subiu três vezes, começando em R$1,20, em 2004, até atingir R$1,75, em 2007. Mesmo com a revogação do último aumento, foi possível presenciar melhorias, como a bilhetagem eletrônica apesar de eu nunca ter visto um cartão ser usado e aquilo atrasar nossa vida na maioria do tempo e a adaptação de mais de 40% dos veículos para passageiros especiais. Mas não deixa de ser injustificável pasarmos por um novo aumento, uma vez que essas mudanças não custaram aos cofres da "entidade" o montante lucrado nesse espaço de tempo (afinal, se tivessem, não haveria TANTO DINHEIRO para Bejaninho exibir burramente nesse vídeo).

Esse ano, os profissionais do transporte público estão sendo ameaçados de perder direitos adquiridos(!), como ticket alimentação, plano de saúde, fundo de garantia, seguro de vida, etc. As negociações precisaram ser intermediadas pela justiça e, ainda assim, de acordo com relatos de alguns dos profissionais e pelo presidente da SINTRO, nenhum representante da associação Astransp aparece para agilizar os processos. E a imprensa (não, não falo da imprensa em geral, falo de outra gigante que conhecemos bem) se recusa a produzir qualquer matéria jornalística que possa manchar a reputação de espresários do "alto escalão" da cidade.

Mas nós não. O blog Banalizando, em parceria com o Estúdio Thenda Multimídia de Juiz de Fora, não deixou o absurdo de hoje passar em branco. Numa produção rápida e independente, por falta de sorte muita coisa deu errado. Na pressa de captar a verdadeira face do que acontecia e na produção de improviso, infelizmente o som falhou em entrevistas importantes, como a que nos concedeu o senhor José Maria, motorista da Ansal Matriz há 30 anos, que se sente tão lesado como cada um de nós. A senhora Maria Lúcia, funcionária pública que havia perdido um dia de trabalho por causa dessa paralisação insensata, também não pôde ser ouvida por uma falha técnica.

O que vimos hoje nas ruas foi um reflexo do descaso com que os "senhores do caixa dois" tratam a população em geral, dos profissionais aos usuários. Homens e mulheres trabalham para pagar valores absurdos que poderiam dá-los um estilo de vida que eles sequer conhecem.

Felizmente, conseguimos captar o áudio da entrevista com o Presidente da SINTRO (Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários), que explicou com detalhes como a empresa tenta se utilizar da imagem dos profissionais para jogar nas costas dos cidadãos a responsabilidade por um aumento absurdo de tarifa que, no fim das contas, é direcionado sabe-se lá para onde, já que o salário dos trabalhadores continua o mesmo e, retomando o que foi dito anteriormente, as últimas adaptações não custaram tanto a ponto de termos que pagar UM REAL E SETENTA E CINCO CENTAVOS (quanto mais R$1,85!!). Se tivessem, a juíza Maria Cecília Gollner Stephan não haveria determinado a re-redução(!) da tarifa, certo?

Assistam, reflitam, e perguntem-se: o que mais precisa ser feito? Merecemos tamanho desrespeito?



Bonitos, sem reparar em coisas irrelevantes (eu!), ok?

E aí, minha gente, como é que a gente fica? Por que é que a gente não está sabendo "da missa a metade" como dizia minha avó?



Me expressei mal em certo momento: A Astransp é uma associação de empresas, uma entidade que representa oito delas (as sete cores dos ônibus - que já conhecemos - e os ônibus adaptados). "Ah, Anna, então não há monopólio no transporte público". Há sim. Prova disso é o fato de que não é a prefeitura da cidade a responsável pela venda dos vale-transportes uma vez que a Associação Profissional das Empresas de Transporte de Passageiros de Juiz de Fora (a Astransp!) deixou de ser considerada um órgão da mesma; os profissionais afirmam que esse é um dos motivos pelos quais a voz do presidente dessa entidade sobrepõe-se à dos presidentes das empresas (que também estão em desacordo com muita coisa, mas de mãos atadas).

A parcialidade dessa reportagem improvisada foi totalmente não-proposital, mas é impossível mostrar os dois lados da história, já que um deles não apareceu em momento nenhum, seja para negociações (que - concordo - não devem ser feitas numa segunda-feira no meio da rua), seja para falar à imprensa.

A greve dos motoristas e cobradores estava marcada sim, para o dia 23 deste mês. No entanto, ao adiantar no final de fevereiro a impossibilidade do reajuste de salário dos trabalhadores, a Astransp afirmou que o aumento requisitado pelos mesmos não seria possível sem o reajuste da passagem. A Sintro então agiu - ao contrário do que muita gente pensa e do que a imprensa normalmente mostra - para que os profissionais não fossem pintados como os responsáveis por mais um reajuste de tarifa, ou seja, não fizessem papel de peões num "jogo", para que pareça ser justificável um pulo absurdo de R$0,30 (trinta centavos!) por pessoa.

No fim das contas os próprios motoristas e cobradores estavam divididos no meio de um fogo cruzado entre sindicalistas, população e empresa - curiosamente, a única aparentemente não prejudicada nisso tudo é a última.

Permito-me uma última conclusão, desta vez declaradamente parcial: O ASSUNTO MERECE MAIS DIVULGAÇÃO! Se querem chafurdar nossos bolsos temos o direito de saber o porquê de forma clara, honesta e sem precisar andar por aí carregando uma interrogação e levando o tapa na cara de sequer podermos chegar aos nossos locais de trabalho em plena segunda-feira, com uma média de 30 graus de temperatura na cabeça.

E você, o que você acha? De que lado está? Qual a melhor solução?
COMENTE!

7 Digite aqui sua babaquice pessoal!:

Jhonatas Franco disse...

Maravilha de post, Anna!

O melhor que o blog já teve.

Hora de a população saber disso. Divulgação em massa já!

SDFSD disse...

Anna, belo post viuu!

É bom a população saber de tudo que acontece mesmo!!

Isso é um grande absurdo!!!


beijos.

Michelle Mota Rodrigues

Iracema disse...

Primeiro: estou orgulhosa da minha amiga que as uns atrás NUNCA se escreveria coisas assim.
Post maravilhoso.

Segundo: é com papai disse, isso tudo é herança Bejani. apesar de eu ter sido extremamente prejudicada com essa greve, já que quase morri de tanto andar ontem, eu não sou contra os motoristas, muito pelo contrário. Ok, admito que xiguei todos eles várias vezes, mas eles estão em seu direito constitucional e não é nada justo motoristas e cobradores de ônibus não terem mais direitos como SEGURO DE VIDA.

Eu entendo que um aumento de passagem é necessário, porque é um reajuste anual, mas espero que os bonitinhos e fofinhos, pra não dizer filho da puta, não façam outro reajuste absurdo e completamente fora de realidade.

skeli disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
skeli disse...

Anna Duzzi é genial! Excelente matéria!

(e claro que vou comentar da trilha sonora... que ficou muito boa =) hehehe)

OBS: que povo safado esse da nossa cidade =/

Thenda Estúdio Multimídia disse...

Ok, Parabéns pela matéria.
Espero que seja ouvido por muitos.

Leon Cleveland disse...

Anna, ownando com seus megaloposts fodões! *-*

MARAVILHA de post! Ficou FODARAÇO!