Sim, sou a favor da não exigência do diploma de jornalismo para o exercício da profissão. Sim, eu faço jornalismo. Talvez, talvez eu seja um idiota. Não estava disposto a escrever sobre esse tema – ainda mais agora, que a maioria da população “indignada” já mal se lembra do ocorrido – mas muitos vieram me perguntar o que eu achava, como eu me sentia, o quão indignado eu estava, etc.. Isso me irritou profundamente por dois motivos: quem pergunta não está nem aí pra mim ou pela minha profissão e, principalmente, dificilmente entende meu ponto-de-vista de forma correta. Ou seja, eu explico, explico, me irrito com a situação e não consigo fazer a outra pessoa entender, sequer em partes. Ela termina a conversa me achando maluco e eu saio achando o caboclo retardado.
O fato é que, por 8 votos a 1, o Supremo decidiu, com base na Constituição Brasileira, que a exigência de diploma feria os princípios de “liberdade de expressão e do livre pensamento”. Para início de conversa, é bom deixar bem claro que a decisão do STF é irrevogável, em última instância, e agora não adianta jornalistas ou aspirantes a tal chorarem nem tampouco viverem da falsa esperança do “Ah, isso não dura muito!”. Dura sim. Provavelmente, para sempre. Partindo dessa prerrogativa, é possível compreender com mais exatidão quais serão os efeitos práticos dessa determinação.
A faculdade de Jornalismo tem a missão de tornar o profissional capacitado a trabalhar em qualquer veículo midiático. Ele deve estar apto a apurar, entrevistar, acompanhar os fatos e transmiti-los à população, sempre com clareza, objetividade e fidelidade aos acontecimentos. Teoricamente. Teoricamente tudo é mais bonito, importante e proveitoso. Quem faz o curso sabe que o talento nato, a sagacidade e a boa escrita – aliados a boas oportunidades – são muito mais importantes do que qualquer matéria ministrada pelas bandas das tais “salas de ensino superior”. Os três pontos anteriormente citados não são, e nunca serão, ensinados em faculdades. Lá, no máximo, serão aguçados os talentos de cada pessoa. Tenho certeza que o mercado de trabalho faria isso com competência infinitamente superior.
É na faculdade também que percebo que existem – muitas – pessoas que estão fazendo o curso “porque gostam muito de falar”, porque se consideram “bem comunicativas” – leia-se fofoqueiras, falastronas – ou porque não tinham nada melhor para fazer mesmo. São pessoas que, em uma aula de Comunicação em Língua Portuguesa III (TRÊS!), perguntam se o correto é “seje” ou “seja”. Pessoas que cismam que o “mim” conjuga todo e qualquer verbo. É gente que usa o gerundismo como rebusque. Até antes da determinação, seriam eles – e só eles – que teriam o direito de repassar as informações mais importantes do Brasil e do mundo para você, leitor. Vale lembrar que os dois jornalistas por trás do Watergate não eram formados, e que nos EUA, na França, Itália e Alemanha o diploma também não é exigido.
A classe jornalística brada aos quatro cantos que o canudo é a base para uma formação profissional de qualidade, e não discordo. Ninguém está aqui questionando a importância da faculdade. Quem sabe aproveitá-la, consegue boa formação e muitos contatos que poderão ser, futuramente, utilizados na vida profissional. Se quem é formado tem essa boa base, a concorrência não deveria assustar. O jornalista clássico, aquele dos jargões e do cafezinho, de toda a prepotência e arrogância típicos, tem medo de que um “qualquer” tome seu lugar nas redações do país, e pode ser que isso aconteça realmente, se a pessoa tiver talento.
“Mas então quer dizer que agora qualquer um vai poder ser jornalista, Jhoninho”? Claro que não, filho.Ao contrário, como os critérios de seleção não mudam drasticamente; quem não tiver diploma terá que rebolar para provar que merece uma vaga entre os profissionais de qualquer empresa que se preze. Quem for formado, também, terá que se superar. No fim das contas todos só têm a ganhar, com mais concorrência e maior busca pela formação de qualidade. Ganham todos, menos os jornalistas pífios, que viviam na doce ilusão de que a formação pura e simples garantiria o seu lugar no mercado de trabalho. Os medíocres estão fora, como deve ser em qualquer profissão. O diploma deixa de ser “obrigatório”, passando a ser “desejável”, um diferencial.
O momento é de reciclagem e aperfeiçoamento. Agora o jornalista de impresso que “entende” política deve se preocupar com o cientista político que escreve bem, e isso vale para várias outras áreas. O que será das faculdades de jornalismo eu não sei. Não sei se o nível das aulas cairá ainda mais; se será elevado – só faz quem realmente quer fazer -; se muitas vão acabar, como prevêem os mais apocalípticos; se será aberto um curso técnico ou tecnólogo de jornalismo... só sei que mudanças virão e é preciso estar atento às novidades. O jornalismo não deixou de ser um curso superior. O diploma não perdeu a validade. Faz quem quer, não faz quem não quer. Simples assim.