sexta-feira, 5 de junho de 2009

"O Avião Caiu. Agora Chega."

Como você já deve ter percebido, não costumo pegar posts de outros blogs e colocá-los aqui, mesmo que com os créditos. Principalmente se forem brasileiros.

Nesse caso, porém, faço questão de transcrever na íntegra o texto que acabo de ler no excelente Controle Remoto. Ele traduz o que eu, você e qualquer pessoa que não use o cabresto da mídia pensa a respeito da superexploração de tragédias imposta colocada pela mídia.

Sem mais delongas, peço que leiam o texto - que é fantástico!:


O AVIÃO CAIU. AGORA CHEGA

Está de volta em cartaz a incrível saga da mídia voltada para a fome humana por desgraças: “Tragédia minuto a minuto: O Avião”, desde domingo (31/05) nas telinhas da sua casa. Imperdível! Uma explosão de notícias que prometem entreter, fascinar e levar às lágrimas em menos de 30 segundos.

Ok, o avião caiu. Centenas de pessoas morreram, famílias foram devastadas e a dor presente em todos que cercam o acontecimento com certeza é irreparável. Assistimos aos noticiários e lemos o que era interessante saber sobre o acidente, prestamos nossas homenagens introspectivas e ficamos parcialmente comovidos com a questão. Mas agora chega!

A exploração financeira da mídia em cima de tragédias chega ao nível do absurdo, só perdendo para a própria procura. Milhões de brasileiros desesperados por saber que, uau, hoje encontraram uma poltrona a dez quilômetros de, uau, outra poltrona. É um verdadeiro bombardeio de notícias absolutamente desnecessárias, utilizando da máxima, já exposta neste blog, de que o brasileiro é viciado em tragédias. É a melhor sensação possível para um povo sem lazer: acompanhar minuto a minuto a morte de outras pessoas em acidentes catastróficos e, com isso, criar material para ser discutido às mesas de jantar.


Todo tipo de matéria surge nesse momento. São famosos dando declarações ridículas de pesar, achando que fazem algum tipo de diferença quando na realidade estão na busca desesperada de utilização da tragédia para benefício próprio: a capa. São notícias sobre missas realizadas para Fulano ou Cicrano presente no avião. Outras narrando a vida da pobre falecida que fazia sua primeira viagem à Europa.

E eu só consigo pensar: por que ninguém narra a história da vida de Jusicreide Fonseca, torturada e assassinada por traficantes porque o filho devia dinheiro aos “homi”? Ou então Aderbaldo Leonel, morto em acidente de trabalho, enquanto suava 12 horas por dia por um salário mínimo. Será que nossa vida (ou morte) só torna-se importante quando explodimos no meio do oceano? Que legado essas pessoas mortas deixaram na história do mundo, além do fato de terem afundado? Então, merecem que realmente prestemos TAMANHA comoção e homenagem, quando ignoramos por completo as outras milhões de mortes que ocorrem diariamente?

Não presto homenagens exacerbadas a vítimas de mortes sensacionalistas, pois não consigo enxergar justiça no fato. Será que a manipulação da mídia tornou-se tão latente que, agora, até mesmo as orações do povo são controladas? Acredito que, se fosse possível um levantamento, calcularíamos mais orações pelos mortos do avião que por todos os outros brasileiros no ano de 2009. Gosto de pensar que todos merecem o mesmo respeito. Por isso, não levanto a bandeira do luto simplesmente porque um avião caiu.

Pessoas morreram, pessoas morrem e pessoas morrerão. Não preocupe-se apenas com as que a mídia lhe impõe preocupação. O planeta inteiro é composto por milhões de aviões da AirFrance, caindo todos os dias em becos e vielas. Chore por todos, ou não chore por ninguém.

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(grifos meus) E tome-se Isabelas, Eloás, Suzannes e TAMs goela abaixo. Você que aguente, queridão. Não existe nada mais importante do que “o que a mídia quer que seja importante”.

Já estava com a ideia de fazer um texto nesses mesmos moldes, mas depois que li esse, vi que não havia mais a necessidade. Tudo o que eu penso está aqui.

1 Digite aqui sua babaquice pessoal!:

Pinhais Virtual disse...

Caralho velho... até eu, que estava abrindo a página da globo.com pra ver como estava o acidente parei e desisti... Faz pensar... Parabéns de novo... Nem preciso dizer que sou fã daqui... Abraços...

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Abracios...