quarta-feira, 1 de julho de 2009

10 Motivos para se Concordar (ou se Conformar) com a Decisão do STF


Apesar do Post Anterior já ter abordado o tema, demonstrando o que penso a respeito da polêmica decisão do STF, percebi que ainda ficaram algumas lacunas a serem preenchidas.

Muitas dúvidas, comentários diversos e algumas "pedradas" vieram a mim através dos comentários, e-mails, fóruns de discussão e Orkut.

Sendo assim, resolvi ser mais claro e didático. Fiquem à vontade para discordar.




Os 10 Motivos para se Concordar (ou se Conformar) com a Decisão do STF



1) A Decisão é Irrevogável

Uma decisão tomada no STF é irrevogável. Isso quer dizer que não vai ser uma manifestação de alguns jornalistas com narizes de palhaço e mega-fones que reverterá a situação. Nada contra esses protestos - são bem-vindos, inclusive -, mas o momento é de se pensar em como vai ser daqui para frente, e não como era daqui para trás.


2) A Faculdade Continua Valendo

Em momento algum foi dito que a faculdade de Jornalismo não é importante para a formação do profissional, nem tampouco que ela deixará de existir ou perderá seu valor. Mas quem se (in)forma é o jornalista e essa (in)formação vai depender de muito mais atributos que os ministrados nas salas de Ensino Superior. Nada como já não era antes.


3) O Diploma Ainda Tem Valor

O curso continua sendo reconhecido, o diploma tem o mesmo valor de graduação que qualquer outro e dá os mesmos direitos: de fazer pós, mestrado, concursos públicos para candidatos de nível superior, ter cela especial se for preso, dentre outros. Além disso, já estamos cansados de saber que boas empresas optarão por bons profissionais, na maioria absoluta graduados.



4) Você não Gastou Dinheiro à Toa

Se você pensa que seu nobre dinheirinho foi desperdiçado no custeio de sua faculdade, está dizendo com todas as letras que PPP (Pagou Pra Passar) e não está preparado para o mercado. Realmente, você gastou à toa. Um acalento: Mesmo antes da decisão você já não conseguiria emprego! Contente-se.


5) A Qualidade da Informação Não Vai Diminuir

Engana-se quem pensa que a qualidade da informação tende a diminuir com a nova determinação. A tendência, sem dúvida, é de crescimento, e não é difícil explicar o porquê. Antes, qualquer jornalista formado tinha o aval para assinar matérias, independente da besteira que estivesse escrita. A partir de agora, quem não se atualizar, se informar e trabalhar com seriedade fica fora do mercado. A concorrência é sempre salutar, independente da formação de cada concorrente. Quem faria a melhor matéria sobre política: um cientista político renomado, notadamente conhecedor da área e que escreve perfeitamente bem, ou um jornalista formado, também bom na escrita, que não tem o mesmo domínio no campo político?


6) Escrever Bem é Uma Arte

Faculdade não te ensina a escrever. Não te ensina a ler. Ler e escrever são inerentes à profissão de jornalista (e a várias outras), mas nem sempre são tratados com a devida valorização. Saber escrever é como saber fazer contas: deveria ser regra, mas é exceção. Não escreve bem quem simplesmente não comete erros estruturais, mas quem entende dos mais variados assuntos, é sagaz, bem informado, aberto a críticas, enfim, uma série de atributos. Escrever bem é uma arte. Não tem cartilha, manual, regra. Tem espírito. A faculdade não vai te ensinar isso. A prática, sim.


7) A Decisão é Reflexo do Mercado

Essa decisão só reflete o que já acontece há muito tempo no Brasil e em todo o mundo. Jornais de grande circulação no país têm bons profissionais que não são formados mas conhecem, na prática, todos os requisitos necessários para se exercer bem a profissão. Vocação não é formação prática, mas uma não trabalha bem sem a outra. Além disso, quem escolhe quem vai trabalhar em cada empresa é a própria empresa, ora! Se ela optar por alguém que não seja bom (independente da formação), apenas para pagar menos, corre o risco de ter que responder pelas trapalhadas que por ventura o "jornalista" venha a cometer. Empresa séria não passa nem perto disso.


8) Teoria Não Substitui Prática

Sabe quando você verá um excelente profissional dizendo "devo tudo o que sei à minha professora de Teoria da Comunicação, Tia Cris, à de Crítica Midiática e aos conhecimentos passados pelo professor de Comunicação e Expressão Oral" ?! Nunca! Profissionais são bons quando sabem, na prática, executar o que foi ensinado anteriormente. Isso serve para o que foi passado na sala de aula? Sim, claro. Serve, porém, muito mais para o que foi passado na própria redação. O conhecimento empírico é muito mais eficiente nesse tipo de trabalho que o divagado teórico, viajandão.



9) A Concorrência Não Assusta Bons Profissionais

Profissionais que se atualizam, estão ligados nos acontecimentos do mundo, leem bastante, escrevem bem, lidam com diversas mídias e estão dispostos a trabalhar sério terão emprego garantido, independente de quanto tenha aumentado a concorrência. O aumento da procura só tende a instigar o aperfeiçoamento do profissional, que buscará novas nuances de trabalho e formação. Jornalistas "meia-bomba", inertes e acomodados com suas profissões, que não pesquisam minuciosamente as fontes, não revisam seus textos, não procuram inovar (sem fugir às explicações básicas), não se reciclam... esses sim, podem ficar preocupados.


10) Não Existe Ética Jornalística

Muitos jornalistas, em momentos de megalomania esporádicos, costumam comentar sobre a "Ética Jornalística" a que seguem, justificando exageros e abusos profissionais. Ora essa, não existe Ética Jornalística! Não existe essa de "eu sigo a minha ética, velho" ou "minha consciência é o meu guia". A ética, por mais subjetiva e disforme que seja, não pode ser uma para os jornalistas e outra para os "cidadãos comuns"; não é porque são do famigerado "Quarto Poder (com influência nos outros Três)" que devem seguir a preceitos e leis diferentes do restante da população. Na faculdade, alunos de Jornalismo estudam a respeito da Ética na Comunicação, mas qualquer profissional contratado por uma empresa receberá orientações sobre como proceder em determinados casos, até onde vai o "poder investigativo", como não cometer exageros ou gafes por falta de apuração, etc.. Não existe, repito, Ética Jornalística. Ética é Ética (sim, maiúscula) em qualquer lugar do mundo. Seria um erro ver um artigo abusivo e justificá-lo como sendo "de um não-formado". Ética está no berço, na criação, na índole, no cursinho, na faculdade, na redação. Não se cria, não se copia. Se não aprender com a vida, meu caboblo, não será a faculdade a fazê-lo.

11 Digite aqui sua babaquice pessoal!:

Leon Cleveland disse...

O que eu já tinha pra comentar, eu comentei no primeiro.

É realmente isso aí. Quem decide quem entra e quem sai são as empresas. Logo, se elas acharem você qualificado para trabalhar como um jornalista, você é um jornalista.

E reitero: Só é jornalista quem trabalha (ou seja, escreve notícias, matérias, reportagens e recebe por isso) como jornalista. Então, parem de falar por aí que são jornalistas!

Isso é pagar de mané. Ou você são garotos(as) de programa também?

Jhonatas Franco disse...

Boa, Layon!

E olha que ser garoto(a) de programa também não é nada fácil.

Prefiro ser jornalista.

=)

Leon Cleveland disse...

Mas, continuo achando que sem o diploma a qualidade cai.
Ali no texto você disse que: "Quem faria a melhor matéria sobre política: um cientista político renomado, notadamente conhecedor da área e que escreve perfeitamente bem, ou um jornalista formado, também bom na escrita, que não tem o mesmo domínio no campo político?"

Uma coisa é fazer uma matéria TEORIZANDO a política. Nesse caso, o teórico político. Agora, fazer uma matéria, expondo fatos sobre política é outra coisa COMPLETAMENTE discrepante. E nesse caso, quem escreveria uma matéria melhor, seria o jornalista.

E, por mais que o conhecimento prático seja mais válido que o conhecimento teórico, para se ter prática, é preciso aprender a teoria.

Muitos aí pensam "Afferson, esse Leon não se decide". Mas, costumo ver a dualidade em tudo... XD

No mais, continuo concordando. Se é irreversível e não mudou "quase" nada, then, let it be...

Jhonatas Franco disse...

Eu também trato a dualidade com muito melindre e até um certo fascínio.

Quando a notícia sobre a decisão saiu, fui radicalmente contra.

Depois, mais ou menos.

Depois, a favor.

Depois, radicalmente a favor.

Agora, a favor.


Parafraseando... ah, esqueci quem: "Não são as respostas que movem o mundo, mas sim as perguntas".

Abração e valeu, mais uma vez.

Leon Cleveland disse...

Pela genialidade da frase, deve ter sido o Einstein. Mas vi essa frase numa propaganda do Futura. xD

Jhonatas Franco disse...

Também vi, mas sei que ela é de alguém...

(jura?)

Anônimo disse...

Caro Jhonatas, sejamos Franco, como o Gilmar Mendes, com todo o respeito, você não entende nada de jornalismo.

Em primeiro lugar, gostei do seu texto. Flui legal e até concordo com alguns tópicos. Mas jornalismo é muito mais que o textinho bonitinho!! Eis o ponto-chave.

Comecemos por aí.

ABSURDO 1: “Escrever bem é uma arte”. Esta é de doer. Pode ser uma arte para escritores, poetas e roteiristas, etc, mas o bom repórter precisa de um texto extremamente técnico e didático para informar o leitor. O lead, meu caro, é fundamental. Fora isso, é literatura, opinião, etc. Dizer que para escrever bem é necessário “entender dos mais variados assuntos, ser sagas, e bem informado, e aberto a críticas”, também demonstra que vc não entende absolutamente nada da profissão. O bom repórter apura os fatos muito bem e, certamente, será capaz de escrever até sobre física quântica. Tomara que, um dia, vc tenha que fazer uma matéria verdadeiramente jornalística.

ABSURDO 2: “Quem faria a melhor matéria sobre política: um cientista político renomado, notadamente conhecedor da área e que escreve perfeitamente bem, ou um jornalista formado, também bom na escrita, que não tem o mesmo domínio no campo político?”. Mesmo erro do Gilmar e outra grande besteira ao confundir artigo científico com reportagem. Um cientista político filiado ao PSDB jamais teria isenção para escrever sobre o PT. Um médico jamais terá isenção para fazer uma matéria sobre o erro de um outro médico. Um pastor jamais terá isenção para falar de um padre pedófilo. Eles podem sim redigir um artigo científico, mas matéria jornalística é trabalho de repórter. Onde há conflito de interesses, chamem um repórter! Pelamordedeus! Pelo menos perseguimos a imparcialidade!!


ABSURDO 3: “O conhecimento empírico é muito mais eficiente nesse tipo de trabalho que o divagado teórico, viajandão.”. Aqui, meu caro, vc está contra a sua faculdade e todo o universo acadêmico. A teoria é fundamental em todas as áreas do conhecimento. Até para tirar a carteira de motorista, vc precisa dela. Ainda mais numa profissão multifacetada e dinâmica como a nossa. Agradeço aos meus professores da faculdade por me ensinaram sobre teoria da comunicação; semiótica; antropologia; sociologia; redação para tv; rádio, jornal e internet; economia; teatro; literatura; informática; comunicação comparada, fotografia, cinema, civilização contemporânea, história da arte; jornal laboratório, psicologia, e por aí vai... Aprendi, é verdade, muito na prática, mas sem esta bagagem teórica não seria nada. Até para ser lixeiro é preciso teoria, meu caro!

Poderia continuar aqui repelindo outros impropérios do seu texto, mas, realmente, estou cansado de ler tanta besteira. Aliás, a decisão do Gilmar e de seus capangas serviu para mostrar o quanto as pessoas desconhecem a nossa profissão. Quanta ignorância postam na internet os defensores da “desqualificação”, Dizer que a exigência do diploma para jornalismo fere os princípios de “liberdade de expressão e do livre pensamento” é a mãe de todas as idiotices. É o mesmo que dizer que a obrigatoriedade da carteira de motorista fere do direito de ir e vir.

Acabem com o diploma, prometo que não vou reclamar, mas não digam tantas asneiras sobre o que vcs não conhecem.

Pode ter certeza, meu caro, é muita presunção da sua parte dizer que uma decisão tão frágil é irrevogável. O futuro a Deus pertence!

Não me leve a mal. Não é nada pessoal.
Abs.
Boa Sorte!

Jhonatas Franco disse...

Pois bem, meu caro Anônimo...

Como diria Jack, o Estripador, vamos por partes.

- Em relação ao "ABSURDO 1":

Eu disse que "escrever BEM" é uma arte, não "escrever" simplesmente. É óbvio que existem técnicas e formas de se confeccionar textos e isso vale, ao contrário do que você parece pensar, também para os escritores, poetas, roteiristas, etc.

Duvido que alguém passe mais de uma semana em qualquer redação e não aprenda o que é lead. Lead é Receita de Bolo e pode ser ensinado facilmente. É importante, realmente, mas não é somente fazendo faculdade que uma pessoa vai aprender o que é.

Sagaz é com Z.

O bom repórter de fato apura os fatos muito bem e, certamente, será capaz de escrever até sobre física quântica. Mas você vai me dizer que um profissional de qualidade não precisa estar bem informado, ser um curioso nato e ter a perspicácia necessária para tentar enxergar além do que é dito e/ou visto por todos? Acho que você está na profissão errada.

- Passemos ao "ABSURDO 2":

Eu não estou confundindo artigo de opinião com reportagem, absolutamente, e em momento algum demonstrei isso. É evidente que um contratado de qualquer meio de comunicação não poderia estar filiado a qualquer partido, a não ser seus textos tivessem o estrito caráter opinativo.

Não disse, também, que essa escolha poderia ocorrer normalmente em qualquer área, sobre qualquer assunto. Porém, quem determina isso não é você, nem serei eu, mas o veículo. Se ele optar por um especialista, mesmo que em matérias jornalísticas, ok. Se optar por jornalistas graduados, ok também.

- Destarte, o “ABSURDO 3”:

“vc está contra a sua faculdade e todo o universo acadêmico”. Parafraseando a mim mesmo: “Em momento algum foi dito que a faculdade de Jornalismo não é importante para a formação do profissional, nem tampouco que ela deixará de existir ou perderá seu valor”. Já está respondido. Ligeiro problema de interpretação.

“Poderia continuar aqui repelindo outros impropérios do seu texto, mas, realmente, estou cansado de ler tanta besteira”. Não sei como conseguiu agüentar tanto tempo!

“Quanta ignorância postam na internet os defensores da ‘desqualificação’”. Não defendo a desqualificação, muito pelo contrário. Quanto maior a qualificação, melhor será o profissional, provavelmente. Disse que concordo que não seja obrigatório, não que ache sem valor. Mas isso eu já disse no texto e não vou repetir.

“É o mesmo que dizer que a obrigatoriedade da carteira de motorista fere do direito de ir e vir”. Piada, não?

“não digam tantas asneiras sobre o que vcs não conhecem”. Não me venha com papo de presunção depois de ter escrito uma frase como essa.

“é muita presunção da sua parte dizer que uma decisão tão frágil é irrevogável.” Como citei, só de você vir falar em presunção já me parece um pouco incoerente com sua acidez nas palavras. Enfim, o fato é que a decisão não tem nada de frágil e é, sim, irrevogável. Quer provas?

- http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=542DAC005

“Fiquemos com a decisão do STF. Embora IRREVERSÍVEL, não é necessariamente a mais correta, nem a mais eficaz”

- http://www.ucs.br/ucs/noticias/1245356202

“O reitor Isidoro Zorzi também lamenta a decisão do STF mas considera que, por ser IRREVOGÁVEL, ela impõe à Universidade um grande desafio: o de ampliar e qualificar, cada vez mais o ensino na área da comunicação, de modo a atrair os alunos que buscam uma formação sólida nessa área.”
- http://www.portalcultura.com.br/?site=10&pag=conteudo&mtxt=9393&cabeca=O%20programa%20Controv%FDrsia%20debate%20a%20decis%FDo%20do%20STF%20de%20que%20diploma%20de%20jornalismo%20n%FDo%20%FD%20obrigat%FDrio

“Por 8 votos a 1, os ministros do STF fecharam a decisão que é IRREVOGÁVEL.”


Obrigado pelo comentário, volte sempre. Ah, não é nada pessoal (até porque você é anônimo). Não leve a mal.

Jhonatas

Louis Miller disse...

Olá Jhonatas. Muito elucidativo seus dois textos sobre a obrigatoriedade do diploma.

Gostaria de te propor um próximo post, aproveitando a deixa, sobre habilitações em comunicação. Quero saber o que pensa sobre elas.

Abraços

Unknown disse...

Olá! Meu nome é Luciana e sou jornalista. Li seu texto e concordei com alguns valores citados. Gostei da abordagem...
Porém sei que muitos não tem a visão que você teve. O mais triste é poder fazer de "conta" (como vários Jornalistas andam fazendo, que nada esta acontecendo). Bom espero que muitos leiam seus textos e comecem a desfrutar de ideias e criticas, mesmo não proveitosas, porém são criticas! Pense nisso...

Jhonatas Franco disse...

R.L. Miller:

Obrigado por ter lido e pela sugestão.

Vou pensar nisso.

Luciana:

Obrigado, também. O pior é essa acomodação sedentária de "Ah, sou contra" sem argumentos.

Quem analisa friamente percebe que não é o fim do mundo e, ao contrário, pode ser muito proveitoso para a profissão.

Voltem sempre!