E eu cobro, hein?!

terça-feira, 11 de março de 2008

ÉTICA ENVIESADA – 2

Dia desses, ao sair do carro para fazer umas compras, deparei-me com a figura de um garoto, catorze anos, no máximo, que me interpelou: “O senhor não teria um trocadinho pro café? Eu podia tar roubando, podia tar matando, mas tô só pedindo”(sic). Cedi-lhe algumas moedas e segui viagem, sem tirar, porém, aquela cena da cabeça.

Como assim “podia tar roubando”? É óbvio que ele não poderia estar roubando ou matando. Quem lhe deu esse direito?

Não vejo problema em despender uma ninharia a quem precisa, mas considero absurda essa banalização do crime. De uns anos para cá, inclusive, nota-se uma glamourização do mesmo. Bandido é esperto, esperto é malandro, malandro é herói. Vivo é rei, martirizado é Deus. E, como todo Deus que se preze, deixa vários seguidores de sua “filosofia”.

Some também a conivência – com o perdão pelo eufemismo – de policiais corruptos e políticos infensos à população que acorda cedo e dorme tarde, tentando, dignamente, sustentar sua família.

Vários são os fatores apontados por especialistas – todos nós somos um pouco – para justificar essa nefasta situação: a deficiência crônica de nosso sistema educacional; falta de uma política social inclusiva e pluralista; baixos salários em sub-empregos; o desemprego, em si... todos são plausíveis, mas, em nenhum deles, a marginalidade pode ser tida como única alternativa de ascensão social, nem, tampouco, a mais viável.

Drogas e armas não podem ser, em hipótese alguma, a solução dos segregados. A educação, sim. O esporte, sim. O trabalho, sim. A inclusão, sim. A honestidade, sim. Enquanto nada disso acontece com eficácia, porém, vivemos consternados, impotentes, aziagos em um país em que, para muitos, bandido é mocinho.

Jhonatas Silva Franco

24/09/07

ÉTICA ENVIESADA – 1

Bom dia, senhor Decência.

Bandido bom é bandido morto, não é isso? Vamos às perguntas fundamentais: Quem é bandido? É quem está preso? Todo mundo que está preso é bandido? Então, todo mundo que está solto é inocente? Paradoxo curioso...

Quem é mais bandido? Aquele que rouba um pote com massa de tomate ou o que sonega milhões em impostos? Mas por que o primeiro fica preso e o segundo, não?

Então tá, vamos falar de bandido, mas bandido mesmo. Os genuínos! Uma vez bandido, sempre bandido? E, uma vez inocente, sempre inocente? Não?! Por qual motivo os cidadãos de bem estão sujeitos a desvios de conduta, e os meliantes encarcerados são irremediáveis? Isso não seria apenas um preconceito estúpido travestido hipocritamente de “respeito à moral e aos bons costumes”?

Com o perdão pelo descomedimento.

Responda-me essa: Por que os adolescentes infratores de classe média estão apenas passando por uma fase difícil da vida, enquanto os jovens pobres já estão aptos a responderem como adultos por delinqüências que por ventura cometam? Ainda não está claro que a redução da maioridade penal é errada e imediatista?

Ah!, sim... reduzida a dezesseis anos, os traficantes não poderão mais recrutar garotos dessa idade para agirem em seu nome, não é? Belo argumento. Mas não é óbvio que, com isso, os chefões do tráfico passarão a utilizar garotos de doze, catorze anos? Isso resolve o problema?

O senhor é a favor da austeridade policial e da pena de morte, certo? Sei... É a favor de rinhas de galo? Não?! Hum...

Sem mais perguntas, meritíssimo.

Jhonatas Silva Franco

18/09/07