terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Utopia de Tijolos e Lajes

Segundo o jornal inglês Daily Telegraph, “Oscar Niemeyer é o último grande arquiteto modernista e visionário”. Comunista inveterado, é o mentor de várias obras pomposas, como – além de Brasília, claro – a Pampulha, em Belo Horizonte; o Edifício Copan e o Parque Ibirapuera, em São Paulo; a sede do Partido Comunista Francês; a Mesquita de Argel, na Argélia; o sambódromo do Rio de Janeiro, e vários outros projetos.

A arquitetura, em tese, tem o intuito de aliar originalidade, beleza e funcionalidade em repartições públicas, centros comerciais, residências, ou qualquer outro tipo de edificação ou objeto, funcionando em prol da população e facilitando a vida de todos. Em tese. E Niemeyer sabe disso. Não que os objetivos arquitetônicos tenham perdido sua vocação; o problema é quando se diz sobre o famigerado “em prol da população”. Explico.

O próprio Niemeyer comenta: “Eu sei que os mais pobres não vão usufruir nada destes edifícios. Mas se os edifícios forem bonitos, os pobres vão parar e ter um momento de espanto e alegria ao ver uma coisa diferente”. Besteira pura. Diz também: “Minha arquitetura é discriminatória, mas fazer a arquitetura chegar ao povo não é um problema de arquitetura, mas de revolução” (?). Tudo bem que não compete à arquitetura promover a inclusão social e a redução das disparidades de nosso país, mas falar em “Revolução Arquitetônica” é, no mínimo, curioso, mesmo partindo de um comunista renitente.

O homem que projetou a casa do próprio motorista, na favela da Rocinha, diz que, com a construção de Brasília, “iria desaparecer essa barreira de classes, mas vieram os políticos – homens do dinheiro – e a injustiça recomeçou”. Todos sabiam que a idealização da nova capital não traria nenhuma mudança substancial em relação às desigualdades, menos Niemeyer. A arquitetura é importantíssima, fundamental à engenharia civil, à decoração, ao design, etc. Mas é inócua à grande maioria da população brasileira. Obviamente, não me refiro à arquitetura que está presente em todo e qualquer tipo de construção ou objeto, mas sim à formal, profissional. Essa é meramente elitista e discriminatória, portanto, sem influência à massa. Disso, todo arquiteto sabe.

Oscar Niemeyer é fantástico com lápis, borracha e prancheta nas mãos. E, de preferência, de boca fechada. E se quiser saber a importância da arquitetura moderna, pergunte ao chefe de sua empresa.

Jhonatas Silva Franco

26/09/07


Redação - ENEM 2007

Tema: O Desafio de se Conviver com a Diferença

UTOPIA BRASILEIRA

O artigo 5º da Constituição Brasileira – “Dos Princípios Fundamentais” – diz que todo cidadão tem os mesmos direitos e deveres perante a lei, não importando se brancos ou negros, homens ou mulheres, pobres ou ricos. O que se vê atualmente, porém, é um completo desrespeito da Carta Magna de nosso país, tanto nesse quanto em outros aspectos.

Vivemos em um país multirracial – conceito totalmente obsoleto, frise-se, visto que termo “raça” não é o mais adequado para se determinar etnias – que exporta para o mundo a idéia de tolerância e convivência pacífica com as particularidades de seus habitantes. Na prática, entretanto, isso está longe de ser uma realidade. Diferenças existem e precisam ser, se não compreendidas, ao menos respeitadas – não me refiro apenas às diferenças de cor, mas, principalmente, às sociais, econômicas e culturais. A pluralidade é o que temos de melhor, mas, esbarrando no preconceito, torna-se um problema sério para o país.

Neste universo de diferenças mil, cabe a cada cidadão procurar conhecer o que tem, faz ou vive de singular, como forma de auto-conhecimento. Conhecendo-se melhor, a aceitação a pormenores alheios torna-se mais simples e proveitosa, visto que todo contato traz um aprendizado, que será absorvido e transmitido a todos que estiverem ao seu redor, difundindo idéias e pensamentos distintos que, por mais que sejam diferentes do seu, coexistem e precisam ser respeitados.

Segundo Oscar Wilde: “Todo crime é vulgar, assim como toda vulgaridade é criminosa”.

A intolerância é extremamente vulgar...

Jhonatas Silva Franco – ENEM 2007

26/08/2007



quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Carta ao presidente

Juiz de Fora, 31 de agosto de 2005.


Prezado Sr. Presidente,

Começo dizendo que não me agradam os seus constantes pedidos de desculpas à nação. O senhor diz que o PT cometeu um erro e que os acusados precisam pagar por isso. Um erro, presidente? Roubo não é erro. Roubo – ou desvio ilegal, ou caixa-dois, ou Mensalão, ou como quiser – é crime, presidente. Crime!

Mas, segundo o senhor, todo governo é assim, não é verdade, presidente? Nós – leia-se o povão – é que estamos errados pela indignação e repúdio a toda essa histórica patifaria, não é mesmo, presidente? Patifaria!

O senhor também afirmou que nenhum cidadão brasileiro pode dar-lhe lições sobre moral e ética. Não seja megalomaníaco. É mister lembrá-lo que um dos maiores princípios de ética é a humildade, presidente. Humildade!

Lula, por qual motivo o senhor, pessoa idônea e respeitável, comporta-se como culpado? Bravatas populistas, no sertão de Goiás ou no interior do Piauí, não dão em nada, presidente. Nada!

E por que não foram tomadas medidas mais duras diante do escarcéu no qual o país vive, presidente? Não é paradoxal esculhambar as elites e eximir os companheiros bandidos, presidente? Bandidos!

O senhor não quer se suicidar como Getúlio, não quer ser deposto como Jango e nem renunciar como Jânio. Não precisa fazer nada disso. Só precisa agir. Não pode ser inócuo, presidente. O senhor sempre foi tão loquaz... quem ficou inócuo nessa situação, salvo diferenças, foi Collor, presidente. Collor!

Não perca mais tempo, presidente! O governo conquistou uma grande vitória com a não-aprovação da irresponsável medida de aumento do salário mínimo na Câmara dos Deputados. Use isso, presidente. Nem só de populismos vive um governo. E não se iluda com os bons números da economia, por favor. Eles levam a crer que o Brasil até que não está tão mal assim. Lêdo engano. O Brasil está péssimo, presidente. Péssimo!

Estamos estarrecidos, presidente. Saturados. Queremos ações, não demagogia. Explicações, não bravatas. Confiança, não esperança. Presente, não futuro. Aprenda isso, presidente. Aprenda isso!

Obrigado pela atenção dispensada.

Jhonatas Silva Franco

31/08/05



Megalomania

O mundo tem uma memória muito fraca. Tanto que esquecemo-nos de perguntar ao senhor George W. Bush qual era, de fato, o real sentido da batalha travada perante o Iraque neste ano que se finda tachado como o mais trágico do século XXI, título que talvez seja carregado por algumas décadas.

Em sua primeira justificativa, a guerra era contra as armas de destruição em massa de Saddan Hussein. Como a calúnia foi descoberta, visto que a existência de tais armas nunca foi comprovada, a explicação mudou: a guerra agora era contra a tirania que infernizava os iraquianos. Que fosse. E depois? Sem armas de destruição de massas a neutralizar, nem outra ditadura a derrubar, a guerra dos americanos assumiu, por fim, o caráter mais absurdo possível: tornou-se uma batalha contra o povo do Iraque.

A escalada rumo à insanidade teve início logo que se cogitou a possibilidade de uma guerra. Os Estados Unidos foram afetados por Osama bin Laden, mas o troco foi para Saddan, que, apesar de todos os defeitos – que não eram poucos --, terrorista não era.

Mas Bush já assumiu a presidência querendo declarar guerra ao Iraque. Os motivos podem ser vários, como, por exemplo, a frustração do Bush-pai, ao realizar o primeiro embate frente a esse país no início da década de 90; a busca por petróleo farto também deve ser cogitada como uma teoria plausível; ou até mesmo para “mudar o mundo”, como eles costumam dizer em acessos esporádicos de megalomania.

Esse processo pitoresco passeia pela não menos estapafúrdica designação para o fato: “Guerra ao Terror”. Como se terrorismo se combatesse com guerra. Redundância ingênua! Esse tipo de manifestação tem que ser contida com operações pertinentes, manobras políticas e investidas cuidadosamente pensadas, e não bombardeando aleatoriamente e mostrando-se austeros ao povo inocente de lá, que depois de serem feitos reféns do ditador iraquiano por décadas, agora tornam-se não menos aprisionados por Bush, impotentes em meio ao circo de horrores que vem acontecendo por aquelas bandas.

Essa história poderia virar um conto. Um não, vários, de diferentes pontos de vista. O primeiro poderia ser o de Saddan, que depois de anos e anos no poder, controlando interinamente a vida de milhões de pessoas, de repente se vê ineficiente e frágil perante a superpotência americana. O próximo deveria ser o do presidente norte-americano, Bush. A fim de manter a postura da família, faz uma guerra imbecil, infenso a tudo e todos, “provando” ao mundo que era mister se fazer um combate sangrento contra o “mal”, com infanticídios e morte de centenas de pessoas diariamente, e tudo por um simples e desprezível capricho hereditário. E, por último, o de um simples cidadão local, aziago e impotente diante do massacre de sua gente, que no ínterim de uma batida e outra do relógio, descobre que mais e mais pessoas estão morrendo pelas mãos tiranas dos ocidentais, sem pudor e/ou consideração pela vida alheia.

É muita história para se contar...

Jhonatas Silva Franco

15/10/04